segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Uma verdade e meia

Costumo chamar o período eleitoral de efervescente. Nosso próximo segundo turno será, certamente, mais do que isto. Pois bem, hoje entrei por acaso em uma discussão ao ouvir uma frase que particularmente detesto: “Política, religião e futebol não se discute.” Para mim, três afirmações que são apenas uma verdade e meia. Torcedora desde pequena do Internacional, já desisti de discutir futebol. Digo aos amigos gremistas que somente nós temos o verdadeiro título mundial, eles dizem que não, comparamos os escores dos grenais, e continuamos conversando e torcendo, ou secando, pra Internacional ou Grêmio. Não é algo que realmente eu pretenda convencer alguém, tenho minha convicção e realmente alguém ser colorado ou gremista não altera minha vida. Então, futebol, em meu ponto de vista, não se discute. Religião é um assunto que em tese não se discute. Até ali. Sendo eu pagã, em nada altera minha vida a convivência com católicos comungando, praticantes das religiões afro-brasileiras realizando seus rituais, protestantes realizando seus cultos. O que eu discuto, sobre religião? Evangélicos organizando suas bancadas e votando contra os interesses dos trabalhadores. Discuto quando ouço atrocidades em nome de Deus (Deusa, para mim). Quando escuto fanáticos defendendo o direito a vida de nascituros acéfalos, ou fetos gerados por estupro simplesmente usando um pretenso direito à vida, como se a vida das mulheres não existisse. Nestes casos, discuto sim, religião, e com muito ardor. Por fim, política. Política é o assunto que mais devemos discutir. Porque nossa vida depende de política, toda ela, do nascer ao morrer. Não discutir política significa não alertar e elucidar fatos. Significa alguém apropriado de dados omitir informações que poderiam mudar opiniões, alterar aprovação de leis boas ou más, eleger um ditador ou um democrata. Por isto, quando escuto essa uma verdade e meia, sempre explico o que falei acima. Porque política se discute, sim. E neste momento que estamos vivendo, o que mais precisamos é justamente isso: Discutir. De forma civilizada, mas com certeza do que afirmamos. Com base em dados verdadeiros, com ardor mas sem imposição. Porque discutir política, neste segundo turno, significa alterar a possibilidade de retomar a democracia no Brasil ou atirá-lo de vez num precipício de ódio, pobreza e violência.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Três Pontos...

A efervescência política em período eleitoral divide opiniões. Pessoas permanecem alheias, outras deixam-se envolver pelo calor das disputas e adotam posições extremadas. Outros ainda passam a defender este ou aquele candidato como determinante para a solução de todos os problemas. Para quem, cotidianamente trata a política como elemento determinante na conjuntura, economia e vida, este debate é sempre positivo, pois permite explorar as certezas e as contradições das ideologias apresentadas. E assim, o mais importante que são as questões programáticas, o histórico do candidato e do Partido que ele representa por vezes são minimizadas em função da simpatia ou de promessas mirabolantes, da influência midiática ou mesmo em boatos disseminados pelas redes. A mídia, chamada há tempos de quarto poder, sabemos que representa interesses dos grandes anunciantes, que por sua vez tem interesses bem diferentes dos interesses da classe trabalhadora. Assim foi com a reforma trabalhista, anunciada como fator gerador de empregos e que na verdade apenas tornou a vida bem mais difícil para os trabalhadores. Por sinal, aí vai o primeiro ponto: Pesquise a opinião de seu candidato sobre a reforma trabalhista, veja como foi seu voto. Foi a favor? Não merece seu voto. Foi contra? Bom começo! O segundo ponto é conferir os boatos espalhados na rede. Os chamados Fake News. Um bom site de consulta é o https://www.boatos.org/. Quem nunca ouviu falar sobre uma Ferrari de ouro ou uma ilha em Angra? Sobre a sexualidade desta ou deste, etc.? Sempre devemos conferir antes de acreditar, muito mais ao repassar. O terceiro ponto que deixo para esta eleição é: Caso seu candidato esteja concorrendo à reeleição ou já tenha sido parlamentar, quais foram seus projetos? Quantos foram apresentados, quantos foram aprovados e qual o impacto destes projetos para os trabalhadores? Como foi sua participação no paramento, e, em caso de executivo, o que se sabe de como foi sua administração? Por fim, sempre é bom lembrar que política se faz com o coração, mas acima de tudo, com a razão. Porque estes que serão eleitos agora no domingo decidirão nossas vidas por quatro anos. E sabe-se lá se sobrará Brasil ou Rio Grande do Sul para serem reconstruídos em 2022, dependendo de quem forem os eleitos.

sábado, 2 de janeiro de 2016

O Rio Grande que é a cara do governador.

Pois os últimos dias e fatos me consomem a mente em desejos nada dignos depois das últimas vitórias deste governo espúrio. Veja bem, nem mesmo Yeda, a mais neo das neoliberais conseguiu torrar as sobras de Brito. De Brito? Vamos para a historia: Nosso Estado nem sempre foi nosso. Desde antes de os europeus invadirem para saquear a Terra Brasilis, da imaginária linha de Tordesilhas para oeste, nada era luso. Nem nós. O Rio Grande foi e voltou, passou pelos espanhóis, holandeses, teve lá seus piratas, teve franceses gulosos pelas bandas da cidade mais antiga do Estado (não, povo, não é Viamão, é Rio Grande, fundada com um forte que era uma cadeia, um cabaré e, claro, uma igreja). Teve Jesuíta moralista querendo vestir as vergonhas de índios nus, que morriam desidratados ou serviram de carne fresca para enriquecer traficantes paulistas. Teve a primeira fase das fortificações, a segunda, e as duas só ferraram o povo daqui. Teve, sim, escravidão e sinhôzinho aprendendo como o povo africano, que sabia carnear, charquear, trabalhar o couro e enriquecer branco. Teve revolução burguesa cantada até hoje em prosa e verso, que na verdade nunca foi emancipacionista por ideologia, mas sim por discordância de alíquotas de imposto. Teve escravo que acreditou que lutou por liberdade, mas lutou mesmo para morrer barganhado com o império, primeiro em Porongos, depois no Paraguai. Teve revolução que de revolução só teve nome, porque bandos armados, saqueando, estuprando, roubando, matando e seguindo a vagar pelo território tem outro nome: Vandalismo. E farta produção de ditadores, caudilhos, torturadores e subservientes. Há, descobri!!! Por isto o Sartorão estufava o peito para dizer: O Rio Grande é o Meu Partido. Era deste Rio Grande que ele falava. Certo que o Rio Grande partido dele não é o Rio Grande dos imigrantes, dos trabalhadores, de quem construiu e ainda constrói o pouco que resta. Não é o Rio Grande de homens e mulheres que catam força dos sonhos para dar conta de ensinar, a cada quatro anos, como se presta um razoável serviço público, por vezes um ótimo serviço público, sem o mínimo de equipamentos sociais necessários. Não é o Rio grande que produziu resistência. Que criou condições com o quase nada que teve e neste caldeirão de impossibilidades forjou uma esquerda que se entendeu diferenciada porque por um bom tempo fez mesmo diferente. E quando se sentiu diferente, se tornou tão hegemonista que passou a se crer imbatível, única e contemporânea, e perdeu o o que a diferenciava do resto: Subiu no salto, e se acreditou a única responsável por tudo de bom, esquecendo e menosprezando todos os míseros aliados que lhe deram suporte. Esta esquerda tão empinada que desconsidera 1922, qa resistência à ditadura, e que ensina com orgulho: O movimento operário nasceu mesmo no início dos anos 80. Mas que, por ironia do destino, luta hoje desesperadamente para garantir o que até ontem denunciava como manobras de um ditador para frear o avanço do operariado, as tais migalhas que a mãe dos ricos deixou escapar na CLT. E agora, depois de um funcionalismo que elegeu seu carrasco porque o governo anterior não era simpático (não era mesmo, governo tem que ser é competente, não simpático), depois que dois dos melhores governos federais que o Brasil teve (porque são, indubitavelmente os melhores, mas não únicos), a direita se aproveita da timidez desta esquerda que podia ter avançado nas reformas mas não avançou, se junta (a direita moralista) com esta esquerdália incoerente e - Horror! A pobre classe média tem que conviver com atrocidades. Lá está a filha da empregada estudando pelo proUNI, a manicure comprando casa com subsídios, o aspirante a burguês, que subiu de pobre para classe média sente-se traído e lá se vai, engrossando o coro do antipetismo, se ferrando com a economia mais estagnada do Brasil, a do RS, e urrando contra a corrupção, ninguém aguenta mais tanta corrução, desde que não precise pagar água e tenha gato na luz. Eta políticos corruptos, estes, que não arrumam uma "boquinha" para o filho de sei eu lá quem, nem conseguem apagar multa no DETRAN. Pois foi estes cidadãos corretos e honestos os eleitores desta corja que vai conseguir acabar não só com o que Britto deixou: Vai conseguir vender até mesmo o que sobrou dos bandeirantes escravagistas de são Paulo, que por lá, em terras neoliberais, tem suas estátuas de heróis e que aqui ainda choram a impossibilidade do separatismo a cada vinte de setembro. Este é o partido do governo. E segue o baile, que daqui a pouco tem mais maldades para planejar nas feijoadas para onde helicópteros da saúde conduzem o governo, ou o genial Jardel se inspira, e bota inspirar nisto, e descobre mais alguma coisa para vender.

domingo, 2 de agosto de 2015

RS: Um Barco à Deriva

O Rio grande do Sul passou por vários governadores. De alguns, lembro, outros conheci pela pesquisa e estudo. Poderia flar de vários deles, dos nomeados pela ditadura, dos eleitos pelo voto. Pelo voto, o primeiro foi Jair Soares, num tempo de proibição de coligações e muitos recursos e apoios para sua campanha. Lembro bem de como a Brigada Militar tratava sindicalistas, manifestantes, etc. Lembro a ferocidade policial. Lembro depois dele, Pedro Simon e a estagnação do RS. Do luxuoso banheiro reformado por Alceu Collares, na ala do Palácio Piratini, enquanto o estado passava por uma grave crise financeira. Da sanha privatista de Antônio Britto, que tanto vendeu nosso patrimônio que nem precisou mais recorrer a algum cargo eletivo. CEEE, CRT, CORLAC, eram empresas rentáveis, que careciam de planejamento e investimentos para oferecer melhores serviços, mas rendiam lucros ao estado. Fechou a COHAB, a CINTEA (estradas alimentadoras) para abrir mercado aos pedágios. Da zebra que foi a eleição de Olívio Dutra - Epa! - E o dinheiro das privatizações? Pois é... Mas Olívio para mim o melhor governante deste estado, buscou a recomposição da máquina pública, reorganizou o serviço público com planos de carreira, investiu na pequena agricultura, implantou o orçamento participativo, não cedeu à Ford, que queria isenções totais (ou seja, o que seria gerado pelos empregos era bem menor do que o governo pagaria com as isenções.) Recuperou estradas, investiu na saúde. E incomodou tanto o latifúndio e o empresariado, acostumado a mamar nas fartas tetas do Estado que perdeu a reeleição para Germano Rigotto. Que tentou, tentou, mas não conseguiu transformar o serviço público em OSCIPs, nem vender mais nada. Foi outro governo de estagnação, insatisfação e baixíssimo desenvolvimento. Perdeu para Yeda Crucius, que perdeu a calma com a resistência do movimento sindical e popular, que enfrentou sem trégua suas ações e impediram seus pacotes de maldades. Durante sua gestão quem mais sofreu danos foi o ambiente natural do RS, por obra da então presidenta da FEPAN, hoje secretária do meio ambiente. Os arrozeiros gostaram do governo, que chegou a criar a secretaria de irrigação ou coisa parecida, e nunca foram multados por desviar água da Laguna dos Patos, nem de rios, riachos, córregos para manter suas plantações bem produtivas. Depois dela veio Tarso Genro, eleito no primeiro turno, que investiu pesado na saúde, recompôs outra vez a máquina pública, implementou planos de carreira para várias categorias, não fechou nada nem vendeu nada. Ah, não implementou o piso dos professores, é verdade. Mas garantiu a valorização do magistério. E perdeu para José Ivo Sartori. Cavalo azarão, correu por fora, enquanto Ana Amélia Lemos, candidata do latifúndio e da RBS se explicava dos escândalos como de ter sido funcionária fantasma no senado, omissão de bens para o IR. Sartori se elegeu entre declarações estapafúrdias, como "Quem quer piso vai no Tumelero". Sem programa próprio, chamou para sua volta toda a direita disponível. Seu primeiro ato foi aumentar o próprio salário, do vice, secretários, deputados e CC's. Com a reação negativa da população, recuou e abriu mão do próprio salário, mas manteve o aumento para os demais. Como medida de economia, fechou secretarias, como a Secretaria de Políticas para Mulheres, para depois criar o departamento de assistência, chefiado pela esposa, com status e salário de secretária. As secretarias fechadas foram substituídas, e no final de contas, tudo foi reorganizado de forma caótica, e hoje seu gabinete abriga mais de 200 CC’s. Quando se tenta entender seu modo “gringo” de governar, várias explicações aparecem. Primeiro, sua incoerência. Fazer uma caravana para explicar aos prefeitos e outros que o estado está falido custou uma fábula e não convenceu. Jogar a culpa no governo anterior não colou, depois que as contas do governo Tarso foram aprovadas por unanimidade, também não. Tirar o policiamento ostensivo das ruas e vetar o ingresso de aprovados na área da segurança proporcionou o aumento da criminalidade, sem polícia na rua, quem manda é o crime organizado. E cumpriu a ameaça de parcelar e atrasar salários. Unanimidade estadual, todos querem o fígado do mandatário. Para completar, na véspera de um dia de paralisação de todo o serviço público, Brigada Militar aquartelada, Polícia Civil atendendo somente emergências graves, os demais setores paralisados, bancários com a garantia legal para não correr os riscos, provável paralisação ou diminuição do transporte coletivo, iminência de caos social. O que o governador faz? Viaja para resolver assuntos pessoais. Então, duas teorias aparecem. Primeira: O governador é realmente muito bem assessorado e tem metas a atingir: Já declarou guerra aos trabalhadores, quer o caos para convencer a população a votar SIM no plebiscito que, por lei tem que fazer para privatizar qualquer bem do estadual. E caso saia vitorioso num plebiscito, iniciar a liquidação, à moda Antônio Britto, prosseguir com o arrocho e desmonte da maquina pública. Segunda: O governo realmente não tem projeto, as várias posições brigam entre si, cada qual querendo impor sua visão. E o mandatário foi ao Paraná consultar uma vidente para pedir conselhos. E nem saiu à francesa, fez como os ratos que abandonam navios antes do naufrágio.

sábado, 1 de agosto de 2015

Pervertendo os Conceitos de Democracia

Exite uma confusão na cabeça de algumas pessoas. Entre democracia, imposição, respeito e desrespeito. Democracia não pressupõe atacar com ferocidade quem não pensa igual. Democracia não comporta atacar para destruir quem/o que lhe pareça diferente. Democracia não inclui o uso de argumentos intimidatórios, vis, inverídicos. Democracia tem por princípio básico acatar e conviver com a opinião da maioria. Democracia inclui, principalmente a participação efetiva nas instâncias participativas, presença na luta, construção da resistência na busca por uma sociedade justa, igualitária e fraterna. Ouvi de uma das maiores inteligências vivas deste país algo que hoje me norteia, e de outra inteligência igualmente brilhante, militante na luta pela paz (sim, a paz não cai dos céus), algo que há tempos entendi e assimilei: Não queremos a paz dos cemitérios, queremos a paz dos direitos, da democracia, da soberania (Socorro Gomes), a paz de quem se sente respeitado, incluído, contemplado. E queremos menos ódio, mais solidariedade, menos discriminação e mais tolerância. Queremos o entendimento que os diferentes não são desiguais, que qualquer forma de discriminação e/ou perseguição são expressões de barbárie e ignorância. Queremos um mundo sem imposições de modelos (Leonardo Boff). Sem querer (nem poder) me igualar a eles, incluo: Queremos um mundo onde as denúncias tenham fundamento, as verdades sejam explicitadas, onde aqueles que só falam falem algo de útil. Um mundo sem intrigas nem despeitos, onde pessoas declarem seus pensamentos e intenções sem disfarces. Um mundo onde o essenciall seja a construção de um novo mundo. Bueno, isto dito, fica a reflexão: O ódio político, o preconceito e a intolerância não seriam, na verdade, sinais de que algo não vai bem no íntimo e na vida de quem odeia, discrimina, difama e ataca? Alguém de bem consigo mesmo age desta maneira? De onde vem a irracionalidade deste rancor contemporâneo? Esta intolerância, este desespero com a ascenção alheia, esta raiva da classe historicamente subjugada e desfavorecida, surge como? Os lobos, em suas matilhas, tem mais solidariedade entre si do que nós, humanos, temos entre nós. talvez estes sentimentos, este ódio social que se esparrama e enraíza por toda a sociedade tenha como maior causa o medo. De reconhecer e enfrentar as próprias fragilidades, medos e incapacidades. Ou o que mais seria?

domingo, 26 de julho de 2015

Abrigos que não protegem, Jornais que desinformam

Na edição de 26 de julho, domingo, jornal Zero Hora, encontro uma reportagem sobre a abrigagem e seus problemas. Onde? Tecnicamente falando, em três abrigos do município. Mas a chamada de capa cita “...tutela do Estado...”, que, com inicial maiúscula sabemos se referir ao poder público, mas capaz de causar uma propositada confusão entre a rede municipal ea rede do estado do Rio Grande do Sul. A capa da matéria fala em “Casas nada especiais”. Cita rapidamente os abrigos da rede municipal, e a partir daí uma torrente de tendenciosidades se abate sobre casas, trabalhadores, e até sobre a morosidade da justiça. A única exceção no mar de lama parece ser a juíza Sonáli Zluhan, única virtuosa entre educadores que mais lembram predadores. Segundo a reportagem, o sonho da juíza é fechar os três abrigos municipais. Os trabalhadores são apresentados como relaxados (...rapidamente os funcionários tentaram limpar o local...), e sádicos (...meus filhos estão em casa... bando de loucos que precisam de remédios...não temos que amar vocês...). São locais feios, frios, imundos, sem brinquedos, com livre entrada e saída, onde os “castigos” impostos incluem proibição de comparecimento à escola. Nas cinco páginas da mesma reportagem é feita uma confusão entre atribuições do serviço social, pedagógico, psicológico, de apoio e dos agentes educativos. Todos no mesmo balaio, incluindo os burocráticos trâmites do judiciário. Um dos subtítulos fala da FPE, e apresenta um caso de evasão. A resposta do trabalhador ao juiz (...acolhimento não é lugar para contenção...) segundo o jornal “irrita a juíza”; A parte que se refere à FPE representa menos de 20% da reportagem, que segue, a partir daí, sem especificar quando fala da FASC ou da FPE. E de forma maliciosa, cita a opinião de um desembargador: O sistema de acolhimento não funciona. Seguramente, quem escreveu este texto o fez distorcendo muitas coisas e omitindo muito mais ainda. No pequeno trecho que cita a FPE não tem uma única linha sobre nossos abrigos. Sobre a dedicação de trabalhadores, de como nosso trabalho é afetado por decisões políticas de direções indicadas a partir de critérios partidários. Dos riscos que corremos, do imenso esforço individual e coletivo para que nossos acolhidos recebam respeito, educação, carinho, assistência, enfim, dignidade. Então, noticiado desta forma, a população decerto até pode achar bem-feito o atraso dos salários de trabalhadores da FPE! E apoiarão, certamente, quaisquer iniciativas no sentido de entregar para a iniciativa privada, impulsionar o programa de famílias substitutas, e daí para a redução da idade penal, é um passo. Porque ou os acolhidos são apresentados como crianças vítimas de maus tratos por parte dos trabalhadores, ou de drogados incorrigíveis, pequenos marginais quando adolescentes. Na prática, a proposital confusão entre FASC e FPE nos mostra explicitamente proposta do Governo através de sua porta-voz, a RBS: Se a rede pública não funciona, que venha a privada! E cada vez mais, me convenço que o jornal citado falta com a verdade. Concluindo, só mesmo uma matéria tendenciosa e privatista como esta para me fazer retomar o blog que estava parado desde 2013.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

De Olho no Brasil

Parece que voltamos à guerra fria. Canadá e EUA continuam a espionar o Brasil. Agora abertamente, sem escrúpulos ou respeito, interferindo ostensivamente na política e economia, vigiando políticos incluindo a Presidenta Dilma. Óbvio que o interesse maior é nosso petróleo, nossas jazidas, nosso manancial de água e biodiversidade.
Ou estarão, quem sabe, bisbilhotando nosso território em busca de algum tipo de armas químicas? Qualquer desculpa apresentada pelos falidos EUA pode ser apresentada. Em verdade, a indignação tem em sua base a própria inoperância de apropriação dos recursos dos países que eles, mesmo relutantes, chamam de "em desenvolvimento". 
Durante séculos as Américas sustentaram a nobreza européia e suas extravagâncias. As Américas Latina e Central mantiveram esta triste condição. Mais tarde, a partir do fim da Segunda Guerra,  a espionagem e as negociatas impostas às ditaduras que ajudaram a implementar mantiveram, por bom tempo, o sonho americano: Consumo e desperdício. As extravagâncias, a imposição de sua cultura e ideologia foram custeadas, em grande parte, pelos juros das dívidas de empréstimos suspeitos. O uso do petróleo como modelo energético sofreu um baque nos anos 70, com o aumento de preços do mercado do Oriente Médio. O petróleo comprado de países atrelados aos EUA tinha seu preço fixado pelos próprios EUA. O que era primeiro mundo, na virada do século, virou caos, falência, desemprego e crises. Como parasitas, dependem da exploração alheios para sustentar um mmodelo econômico falido.
O que fazer isto, então? Espionar o Brasil, nossas reservas, nossas jazidas. Buscar logo um bom motivo para controlar nossa riqueza. Logo, estaremos sendo tratados como país aliado ao terror.
Porque, vamos combinar, não é por falta do que fazer que os vizinhos pobres do norte nos espionam. Penso que nossa reação está muito leve. Este tipo de ofensiva contra nossa soberania merece medidas bem mais drásticas.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O tesouro da Lagoa

O frio, quando acorda a lagoa, trata sempre de primeiro enrolar suas espumas no manto opaco da cerração. Os barcos se aprontam com suas redes e anzóis, o peixe esta época já está crescido e pronto para o fogo. Milênios passam, e o peixe continua dando sustento aos ribeirinhos. Não mais como antes, no tempo e fartura; Hoje poucos respeitam a piracema, não há tempo para procriarem. E também tem a sujeira, o lixo, o esgoto e a porcaria industrial murchando os juncos e outras plantas, arrancando o resto de ar da água apodrecida.
Mas ali, onde falo, ainda restam alguns juncos, alguma espuma branca e tainhas gordas. Manhãzinha já começa o trabalho. Melhor que não tenha chuva, porque a cerração baixa com o sol.
As casas para trás do centrinho, ainda madeira sem grades. Telhados desprotegendo os caibros da madeira de pouco mais de duzentos anos. O velho e pioneiro porto que a cheia de 1941 levou, era lá que chegavam pessoas, mercadorias, guerra, mortes. Uma guerra que não era nem daqueles açorianos, nem daqueles negros, nem dos guaranis. Uma guerra que, dizem, deixou navios, canhões e riquezas no leito da lagoa.
Por ironia, os espanhóis religiosos que lá tentaram se estabelecer por volta do ano de 1600, foram expulsos pelos guaranis.  Mas deixaram a base de pedras onde foi construída a Fortaleza que também não vingou.
Aquela terra é inquieta, rebelde. Não aceita sua depredação. Quem diria que expulsaria terrenos e loteamentos já instalados para retornar a ser mato? Quem se atreveria hoje a desafiar os profundos poços das pedreiras violentadas?
Aquela água é sólida, é uma imensa e maciça construção de suas diminutas gotas, aquele vapor imperceptível a quem não lhe presta atenção. Aquela água toda, aquelas marolas, ou as ondas em dias de tempestade, seja no calor ou no frio, aquela água nos leva, embala, revela.
Mas não se descuide: Nunca deixe ou leve sua alma inteira. A lagoa precisa de um tantinho de nossa alma, assim como precisamos dela, de suas gotas, de seus grãos de areia. A tentação de entregar nossa alma inteira pode nos tornar parte indissociável dela. E negar nosso pedaço de alma certamente nos privará de seus encantos.
A lagoa é nossa medida. E ela nos escolhe meticulosamente entre as centenas de seres que infestam sua água, sua areia, seus juncos. Não, nada de critérios mundanos, nada de ouro. Nada de castidade absoluta, nada de seres dedicados as lides espirituais. Seus critérios são outros, e eu não os entendo. Mas já conheci outros prediletos da lagoa. E todos nós conhecemos esta escolha.
Mesmo com toda a movimentação que já houve por lá, por vezes dá para sentir as naus chegando, com imigrantes que mal passavam de meninos e meninas, ansiosos, com medo, a angústia do desconhecido. Certa vez me pareceu ver uma fila de pessoas andando rigorosamente em ordem. Não durou um segundo, mas entendi que estava percebendo os japoneses chegando à região, onde desenvolvem um belíssimo trabalho de agricultura familiar.
Algumas noites de céu limpo e vento sul, com atenção, podemos ouvir os lamentos das almas dos afogados. Dos que ousaram aquela morte terrível, e dos que se igualam pela busca incansável dos tesouros que pensam achar.
A lagoa, seu leito, suas águas, suas matas, suas pedras, tudo isto faz parte do tesouro. Mas o mais valioso de tudo é entender que nossas almas fazem parte dela e ela de nós. O privilégio de conhecer, entender e sentir a lagoa.